Deito-me no teu leito e olho-te. Navego no oceano dos teus olhos e mergulho no silêncio das tuas palavras. Tocas-me no cabelo. Num tom de gozo perguntas "Porque escreves sobre amor?". Que mais há para escrever? Para onde quer que olhe tudo grita amor. Para que vivemos se não para amar? Somos trazidos ao mundo com um único propósito. Deus disse, para quem acredita Nele, ama o próximo, e a meu ver é essa a nossa missão na Terra, amar e ser amados. Dar um pouco de nós a alguém e receber um pouco desse mesmo, é assim que crescemos, a dar e a receber. Cada indivíduo é uma junção de genéticas e células e coisas científicas que eu até podia fingir que percebo quando de facto não sei nada, mas é também acima de tudo uma junção das experiências que passsou, das pessoas que amou, ou das que desamou. Vamos roubando um pouco de cada pessoa, seja das que mais felicidade nos trouxeram ou daquelas que nos partiram o coração em mil pedaços e ainda afirmamos que "somos nós próprios", "eu sou eu e nunca mudei". Eu sou eu e vou-me deixando acrescentar a cada dia que passa por cada pessoa nova que conheço.
Interrompes-me os pensamentos. Odeio que o faças, ainda por cima porque retomas as conversas com perguntas complicadas. "Ainda há sentimentos?". O silêncio toma controlo do quarto escuro em que nos encontramos, apenas com a pouca luz do luar que entra pela janela que insistes em manter aberta apesar de saberes que não gosto de dormir com os estores para cima. Voltas a insistir na pergunta. Claro que sim, um turbilhão de sentimentos. Quem seria eu se já não tivesse sentimentos? Por ti, por outros e por aqueles que ainda nem apareceram. Não sei viver pela metade, desconheço essa coisa do "ou gostas ou não gostas". Cada pessoa que conheço tem um pouco de mim, e eu tenho um pouco delas. Estou-me a tornar repetitiva? Mas é verdade, não te rias! Como podes criticar-me por não ser capaz de expulsar pessoas da minha vida? Tu é que és insensível ao ponto de não te relacionares mais com pessoas do teu passado. Como és capaz? Todas as pessoas que me cativam e que conseguem um lugar no meu coração, já não saiem de lá. Para muitos isto torna-se complicado de compreender e não percebem como consigo manter certas amizades, mas é esta a verdade, essa pessoa já foi importante para mim por algum motivo e nunca ninguém me será indiferente. Desconheço essa sensação. Indiferença.
Perdes a paciência para as minhas conversas. Já é tarde, daqui a bocado o sol começa a nascer. Sento-me com o lençol nas pernas e acendo um cigarro. Tu olhas-me como quem pergunta se está tudo bem, não estou nem aí para te responder. Sem dizeres nada conseguiste-me irritar. Tiras-me o cigarro e começas tu também a fumar, deixas-me envolver no calor dos teus braços. Está uma noite fria. O silêncio retoma o poder na sala. Perdemo-nos nas palavras que ficaram por dizer e ficamos apenas a viver o momento, a saborear cada sensação que a vida nos transmite, pela noite fora. E tentas compreender-me, juras compreender-me mais um pouco do que à meia hora atrás. Agarras-me com força e prometes que não vais a lado nenhum. Promessas...
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