quarta-feira, 30 de setembro de 2015

De pés descalços, sento-me no parapeito da janela para fumar um cigarro. Aprecio a aragem da primeira noite de Outubro, e de como ainda posso dormir de calções. Hoje a lua está bonita. A lua está sempre bonita. Para os realistas a lua não muda de forma nem de tamanho, é sempre a mesma, o que muda é a nossa perspectiva. Já nós os sonhadores preferimos acreditar que esta muda, a cada dia que passa, que tem dias em que se esconde e dias em que se exibe, sempre bela e misteriosa a iluminar os meus passeios nocturnos.
Hoje passou-me pela cabeça o que sou, imagem que transmito, e a minha felicidade. Pensei em todos aqueles que tiveram um papel importante na minha vida e que hoje já não estão comigo. Alguns por obra do destino, outros por desilusões, ou até mesmo por desilusões que a vida me pregou. Felizmente ou estupidamente guardo um lugar para todas essas pessoas no meu coração. E infelizmente, na minha memória, diariamente.
O bom da vida é que dura. O bom da vida é que nada é efémero e tudo passa.
O mau da vida é que dura pouco. O mau da vida é que nada é efémero e tudo passa.
Esta semana passei-a num hospital, e junto a mim, numa sala de recobro vi caras rugosas, caras vazias, caras de abandono. Fez-me pensar em como as coisas acabam, em como no fim estamos sempre sozinhos e só nos temos a nós próprios.
Quando sai do hospital tinha uma begonia branca à minha espera, ai e como eu gosto de begonias!, begonias de carinho, de compaixão e de saudade. Fez-me pensar no quanto as pessoas são essenciais, no quanto por mais que tente enganar a minha mente, a gente precisa de gente na nossa vida.
Se calhar penso demais.
Mais uma vez começo a escrever algo que não tem conclusão nenhuma. Acabei o cigarro. Um pouco mais perto da morte do que há uns minutos. Deito-me na cama e não consigo evitar os meus pensamentos. E será que fiz diferença na vida de alguém? Será que alguém se deita a pensar em mim? Ou será que alguém sentiria a minha falta se fosse hoje?