"Eu vou falar sobre ti, pois é em ti que eu penso."
Deito-me na cama e perco-me, mais uma vez, nos meus mais que muitos pensamentos. E volto a lembrar-me de ti, como se alguma vez me saísses da cabeça. Hoje lembrei-me da primeira vez que estivemos sós. Não que fosse a primeira vez, mas como miúdos que eramos talvez quisemos oficializar a coisa e chamá-la de "primeiro encontro". Até me lembro de como estava vestida. Mas só de mim, não me lembro minimamente da tua roupa nesse dia. Lembro-me das tuas roupas, dos conjuntos que costumavas usar, mas não me lembro desse dia. Talvez porque passei algum tempo a escolher o meu vestuário, ou talvez porque sou rapariga e nós não esquecemos estas coisas. Gostamos de estar sempre impecáveis. Não sei, seja qual for o motivo, só sei que estava com a minha camisola mais "de sair" na altura, porque para quem não sabe, a roupa "de sair" é aquela roupa que só se usa mesmo numa ocasião especial, e tu eras uma ocasião especial. Tu serás sempre uma ocasião especial.
Adiante, lembro-me que fomos ver o mar, para o cimo das rochas. Lembro-me que havia imensas flores à nossa volta e que era um espaço super reservado. Lembro-me que ficámos sentados mesmo no limite da rocha, só com mar e rocha a não sei quantos metros abaixo de nós, e lembro-me que ficámos assim horas, só a conversar. Lembro-me que estava cheia de medo, e estas coisas eu nem sequer partilhava contigo. Havia de ser agora. "Tás louco?! Achas que eu me sento aí para cair e morrer? Tás parvo, vamos mas é sentar-nos aqui bem mais atrás nos bancos!", e tinha perdido um momento lindo e tranquilizante de apenas vermos o mar à nossa frente. Os momentos maravilhosos que deixamos escapar na nossa vida por pensar demais em vez de apenas viver, não nos deixarmos levar pelo momento.
Guardo bastantes destas memórias contigo. Talvez algumas nem te lembres. Provavelmente a maior parte. Mas gosto de relembrar as tardes que passei contigo, gosto de me rir com as parvoíces que fazias para tentar que te achasse mais piada, talvez, e do "pouco à vontade" no bom sentido da palavra, que tinha contigo. Gosto especialmente dos primeiros encontros, era tudo tão novo, o teu cheiro era tão cravado na tua pele e tu eras tão miúdo ainda com uma gigante vontade de viver um dia de cada vez e aproveitar ao máximo todos os segundos.
Pergunto-me se é que alguma vez vou sentir essa inocência e felicidade como tinha contigo nos nossos tempos. Pergunto-me se é que te lembrarás também destes momentos e se será que também tu te pões na cama, a olhar para o tecto, apenas a rir de momentos passados comigo.
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